segunda-feira, novembro 16, 2009

Para compor o ambiente.



'O som que tangia os ouvidos atentos dos presentes, ainda que de forma desgostosa, entrava em conflito com o estado emocional singelo daquele indivíduo de incauculável rudeza e aborrecimento. Estava sentado num ângulo disforme e antagônico ao aspecto uniforme e parnasianista do local e adornado com aquele natural descomprometimento com a aparência: um fato que dava um toque sutil a sua postura vulnerável - e fazia par com os hieróglifos indistinguíveis da circulação incessante de pessoas, a qual moldava caracóis e abstrações de uma criança feliz em receber gizes de cera e um papel (símbolo de alvidez), pobre papel. Não obstante, ao posicionar-se com decidida expectativa naquele canto vago e preenchido de mansidão - isolava-se daquela maneira súbita, e aguardava algo animador, surpreendente e incrível, mas apenas aguardava - confomou-se com a observação de uma dama - "ah, que diabos fazes aqui, senhora?" - a qual trajava um conjunto ilustre de indumentárias históricas e feitas, presumia ele, de acordo com o rigor da época. Evidentemente não ocorria-lhe o nome ou a composição psicológica daquele ser, pouco importava, a propósito, tampouco era de seu desejo tê-la por perto; afinal, conforme aprendera durante uma sucessão brutal de decepções sintéticas, seus amores devem encontrar-se num raio estrito da ausência de sentimento - ou algo perto disso: um horror derradeiro.'

Ao visualizar este composto de tolices, queria eu reduzir o tal papel a pó. Todavia, pressupondo pertencer a um sábio o bater do martelo, o toque da chama ou o destino de qualquer prosa, abstive-me de tal pensamento para voltar à tentativa de descrição do que não pude retratar na circunstância passada: a dama.
Sei que não é de teu interesse, leitor de entranhas, e com definitiva razão estás, mas creio ser direito de um escrevinhador tentar seduzí-lo com esta fábrica vitalícia de máscaras e disfarces, que, como resultado, traz à venda da inspiração e paciência por um vintém valorizado: o esforço das pálpebras tais. Sigamos.
Antes, valendo lembrar meu ato espontâneo em tomar parte do papel ocupado por equações estúpidas, tive a moça alva deitada sobre um banco de pés indecisos e declaradamente influenciados pela lei que nascera em uma ousada macieira e uma caixa encefálica de prestígio. Observei-a com temor: era esse padrão que me distanciava do pólo "ameaçador" (ao cônjuge, naturalmente) ou esnobe, algo que, nas duas dimensões, resultaria em olhos púrpura e em um sistema digestório em sentido contrário. Então a pequena, que não em tamanho, mas em expressividade e conveniência, tomou a si um instrumento de cordas; dizia eu que de todos eles era o mais acolhido pela sorte, vez que se instalava ao ouvidos e ao pescoço da ruiva sóbria, impaciente e disritmada, dona da voz pouco marcante e ecônomica em verbetes dissilábicos.

A ser sincero, como se esta fosse minha obrigação para com o saprófita infiel que me lê, desejei que aquele exemplar de beleza se arriscasse a ler esta estupidez; e por razão mais que comum, ou consequência, esta construção não se vê mais necessária, contudo ocupará um número preciso e modesto de pixels num blog confuso e alocado na página 66 do site de busca mais popular do mundo.
Chamam-me por ora. Despeço-me. Esqueço a dama, dirijo-me ao saguão de entrada: esta se perderá, como ocorre com todas elas, na imensidão do orbe infeliz, - "pensa Terra ?" - são meus olhos !

Um comentário:

  1. Bem, cita-te na obra, ao mesmo tempo, em duas indicações distintas?
    Me pareceu apropriado o sistema.
    Julgo não conhecer a tal dama.
    Muito bom.Mesmo.

    ResponderExcluir