terça-feira, março 16, 2010

A fantasia 'bela' dos desavisados.


Nestas súbitas divagações que nos tomam parte e meia do tempo, encontrei-me vez ou outra em esquinas acinzentadas, cabisbaixo e torpe, a avaliar os vértices da verdade doída que sobrepuja fantasias anteriores - vide De meu pecado faço crime. Elucidado a esse respeito, assinalava em alguns instantes periódicos as forças motrizes que me conduziam ao sono terno da ilusão sem causa, e, projétil ansioso por sair do artefato assassino, me atraíam a deitar no véu onírico e cobriam-me a cabeça após cerrar os pés aflitos, famintos por caminhar !

Quando chegou ao conhecimento dos presentes tamanha indiscrição, os mesmos puseram-se a sintetizar idéias e a buscar, em suas veias socráticas e platônicas, uma maneira pouco elaborada de me presentear com a verdade absoluta e conferir aos meus ouvidos um negativismo saudável, o qual me faria retornar à integridade cognitiva e enviar para um ambiente de inércia aquela distração deletéria. Naturalmente não o fiz, e por este triste, e talvez feliz, motivo, recorro aos olhos públicos para definir o julgamento da noite passada, para espantar de minha mente confusa os fantasmas dos laços amorosos juvenis, para tentar ouvir um eco de sentimento do grito que silencio por nada ter a clamar.

A dama agora se distrai com outros textos, com outros sons que não minha voz apressada e ressonante, e a fantasia bela dos desavisados soa com uma frase estridente e fria, carregada de naturalidade e doçura, anunciando, aos berros, as agradáveis circunstâncias de um amor - talvez pelo tempo que perdi naquelas esquinas cinzentas a esperar meu vigor psíquico exaltar-se - correspondido.

Ausente em forças, leitor que ri e contorce, choquei a cabeça contra o banco desconfortável e pus-me a realizar sobre cadeias carbônicas e geometrias moleculares, mas estas divertiam-se com minha derrota e agrupavam-se em forma de palavras e nomes perturbadores. A fuga mais prática era alimentar o deboche da Ciência, e nesta prática insana concebi minha moléstia e o escárnio do mundo: um horror em desatino. Adeus, saprófita de entranhas, adeus.

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