Não nutro por ti qualquer desejo. Quando a vi com meus olhos pouco simpáticos, não palpitou o coração, não dilataram as pupilas e nem minhas mãos tremeram de pavor ou de excitação. Nada fiz.
Honestamente, sequer te olhei com olhos de malícia ou sorri esperando despertar-te paixões ou fantasias naquela atmosfera perigosa que é a família e seu ambiente intrincado e tenso que faz-nos suar como se a qualquer momento fôssemos pisar num espinho ou numa ferida aberta de outrem.
Nunca mirei tua pele e tampouco desejei, consciente ou em sonho, tocar tuas arestas ou teus cabelos procurando ceder ao impulso magno do descontrole. Portanto, não esconda-os nem tampe-os com milhões de fitas e mãos como se de mim brotasse um espírito torto. Hoje, sabe-se lá por qual motivo, gostei de saber que é alva como pluma a sua tez e tens os cabelos serenos como nuvens, apesar de nunca tê-los tomado às mechas e as revolvido nos meus lábios frígidos.
Saiba que jamais admirei tuas virtudes e jamais o farei. Em respeito a tudo o que se arquiteta com alguma razão no universo, proíbo-me de inclinar-me à curiosidade de teu colo ou ensaiar imaginar como seriam tuas carícias e teus olhos em repouso. Pois, lá dentro de cada um, reside a certeza de que você jamais será amada na proporção certa. E que para descrédito da humanidade não há um de nós que sacie o desejo que emudece tosco na tua carne. Para ti, eu transcorro como os carros de um sábado à tarde – lento, vazio, desimportante.
Então proíbo-me de dormir meu sono e preocupar-me com o teu. Proíbo-me de viver meus dias tentando encontrar-me com os teus. Proíbo-me de caminhar meus passos intencionando caminhar com os teus. Proíbo-me de viver minha vida desejando secretamente que ela fosse também a tua.
A imagem foi gentilmente dedicada ao texto pelo artista Leonardo Vieira, que publica suas obras no seu blog - http://porleonardo.blogspot.com/.
A imagem foi gentilmente dedicada ao texto pelo artista Leonardo Vieira, que publica suas obras no seu blog - http://porleonardo.blogspot.com/.
Meu comentário dessa vez é: vou me calar.
ResponderExcluirCê é incrível, cara. Não larga isso daqui não.
Paulo da bio.
ResponderExcluirPequeno texto com muito significado. Triste História. Mas dá pra viajar bastante.
Faço minha as palavras da Gisele Maia... Esse, eu não tenho coragem de me atrever a diminui-lo com minhas palavras.
ResponderExcluirInefável. O prazer que me provocou ao lê-lo foi descomunal.
ResponderExcluirEssa sua intensidade natural e bela de escrever me faz ficar encantada todas as vezes que te leio.
Parabéns, sweetheart. ♥