segunda-feira, agosto 04, 2025

Pele de Moça

 “Ahora es más difícil hablar de esto, está mezclado con otras historias que uno agrega a base de olvidos menores, de falsedades mínimas que tejen y tejen por detrás de los recuerdos”

 Bestiario (1951) por Julio Cortázar (p. 147)

 

Pele de moça é textura, colônia, perfume e calor.
No toque, feitiço, veludo carmim,
solar, radiante e rubor.

Pele de moça é charada, nó de marinheiro em pingo d’água.
Decisão de um dia inteiro, sabor de manhãs de janeiro.
Suspiro sereno de mágoa.

Pele de moça é soneto.
Poesia que nasce no peito,
verso que brota sem jeito,
caminho aberto sem rumo perfeito.

Pele de moça é colher as frutas do pé,
a arte de, aterrorizado, sorrir,
mistério insolúvel no canto do olho,
uma fraqueza em segredo de sempre fingir.

Pele de moça é multitude, infinidade.
É espiar curioso fora dos planos do mundo,
perseguir o extra, rejeitar o ordinário,
fazer de conta, inventar uma verdade.

Pele de moça é espera, agonia, provação.
É sentar na ponta do sofá, pensar no futuro, na viagem pro mar,
é embalar sua pequena nos braços, desejar uma sorte, alinhamento dos astros,
rogar para santo-orixá apertar forte qualquer frouxo ou pequeno laço.

Pele de moça é noite em claro, desejo destilado nas vias do olhar,
medo do atraso, da rejeição,
casa vazia, silêncio que arde,
mas que guarda, assim discreto, cama feita de desejo e paixão.


-A


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